quinta-feira, junho 14, 2007

Tarde

Na Beagá da minha memória é quinta-feira, quase cinco da tarde. Dia de rock e country na Savassi. Marcus Gauguin no baixo, Afonsinho na guitarra, Julinho Venturini na batera.... Depois tem feira hippie na Praça da Liberdade. Temos que subir a Cristóvão Colombo pra comprar camisa dos Stones.

Já é sábado à tarde. A caminhada começa pela Getúlio Vargas. Descendo a Rio Grande do Norte, o jazz come solto na calçada em frente ao Abóbora. Yuri Popoff no baixo, Beto Lopes na guitarra, Neném na bateria. O tempo passa invisível... Já é noite. Na Getúlio Vargas, quase na Praça ABC, o segundo andar daquele prédio novo abriga o Barboleta. Mais jazz... O Lincoln Cheib está ali, barbarizando na bateria, enquanto o Wilsinho segura a palheta igual ao Pat Metheny.

A manhã de domingo é passada obrigatoriamente no Minas. Chorinho no restaurante, filé acebolado. Na saída, Butequim, ali, atrás do Corpo de Bombeiros. Casquinha de siri e picanha na tábua. Uma bela forrada para a tarde no Mineirão. No caminho, lembro-me do Tinêgo levando o sobrinho aqui, ainda criança, pro campo e dizendo que o América iria jogar contra o Uberaba e o Atlético, contra o Cruzeiro. Aquilo me confundia. Como os times iriam saber qual bola era do jogo deles? Iriam botar mais duas traves e cada jogo seria disputado numa metade do campo? Ou um na vertical e outro na horizontal? Foi meio frustrante saber, pela primeira vez, o que era uma rodada dupla. Por um lado. Por outro, dois jogos no mesmo dia... sensacional!!

E era espetacular mesmo. No jogo do América, ficava fascinado com meu tio torcendo. Depois... Joãozinho arrepiando meio Mineirão de euforia e meio de susto... Reinaldo fingindo que ia... e indo! Nelinho soltando a bomba pra cima do Ortiz... Cerezo lançando milimetricamente para o outro lado do campo...

Estamos quase chegando ao estádio. Hora de saltar do ônibus. O Túlio, marido da prima Leleu, chega junto comigo. Ele vem de carro. Carona garantida para a volta. É dia das mães.

Agora não. É tarde. Muitos anos mais tarde. Talvez, tarde demais.

(texto publicado originalmente na Globominas.com em 20/09/2006)